quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Você conhece o CBCE?


CARTA DO CBCE AOS PESQUISADORES DO CAMPO DA EDUCAÇÃO FÍSICA BRASILEIRA

Como entidade científica que congrega pesquisadores ligados à Educação Física/Ciências do Esporte no Brasil, o Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte (CBCE), por meio desta carta, intenta dialogar e contribuir afirmativamente com os processos que atualmente delineiam a pós-graduação stricto sensu da área.

A história da Educação Física testemunha a dificuldade da sua constituição e legitimação como campo científico, uma vez que se compõe em torno de um objeto de estudo, cuja principal característica é a multi/interdisciplinariedade (reconhecida no Comunicado 002/2012 – Área 21: Educação Física – CAPES), sobretudo das áreas biológicas e das humanidades. Certa cisão e polarização entre essas áreas pode fazer o pêndulo ora estar de um lado, ora estar de outro, o que, na compreensão do CBCE, não traz benefícios à Educação Física como campo científico unitário que já legitimou seu objeto de estudo junto à comunidade científica, incluindo-se as agências de fomento à pesquisa no Brasil.

O CBCE reconhece que na direção da consolidação da Educação Física como campo de produção de saberes, a sua incorporação pela Área 21 da CAPES promoveu avanços importantes no que tange a uma política de produção e circulação desses saberes, dentre os quais:

1) Qualificação dos Periódicos da Educação Física – dentre os quais figura a RBCE – por meio do atendimento a critérios mais rigorosos de publicação, o que concorreu para o estabelecimento de uma periodicidade mais consistente das revistas, assim como da composição de um corpo editorial mais qualificado e da conquista de indexadores bastante respeitados no mundo acadêmico; O CBCE também apóia as iniciativas do Representante da área na Capes, Prof. André Rodacki, referente à valorização dos Editores e Pareceristas de Revistas da área no Brasil através da pontuação destas atividades dentro da avaliação da Capes.

2) Qualis-Livro – A organização dos critérios para a avaliação de livros foi um importante avanço da área, no sentido de contemplar a produção de conhecimento nesse formato.

3) Aumento do número de Cursos de Mestrado e Doutorado em Educação Física no Brasil na última década.

Apesar desses avanços, são necessárias mais mudanças. De fato, a necessidade da valorização da produção na área e os ajustes que considerem as características da produção do conhecimento de pesquisadores de diferentes vertentes continua presente e atual e o CBCE se dispõe a contribuir e propor soluções para esta questão.

Se é verdade que já sabemos que o objeto da nossa área é e continuará sendo investigado, discutido e representado na literatura científica a partir de diferentes enfoques, abordagens e linguagens, não podemos deixar de observar que os critérios atualmente estabelecidos pelos processos avaliativos da pós-graduação stricto sensu ainda não conseguem abranger essa pluralidade.

Mais do que analisar os critérios para a avaliação dos periódicos, um aspecto preocupante do sistema de avaliação é a característica fundamental de demarcação de estratos que obriga a ocupação destes mantendo sempre um corpo de Revistas nos estratos mais baixos. Um avanço significativo nesse problema foi dado ao se criar critérios mais contundentes no sentido de valorizar a produção na área, enquanto que Periódicos com menos relação com a área ocupam os estratos inferiores da avaliação.

Ora, não apenas os modos de fazer pesquisa, como também os próprios tempos de investigação, se distinguem quando comparamos as estratégias de pesquisa, não somente entre as áreas biológicas e humanas, mas na grande variedade de métodos e estratégias dentro de suas áreas. Novamente, um elemento definidor do que é impactante para o ensino das práticas corporais, independentemente da linguagem e das estratégias de pesquisa, mas que tenham relação direta com os campos de atuação do treinamento, da escola, da saúde e do lazer, poderia ser um critério de definição para a ocupação dos estratos do Qualis Periódicos.

Há ainda a evasão de pesquisadores de distintas áreas da Educação Física (Ciências Biológicas e, especialmente, Ciências Humanas), para Programas de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação e/ou Multidisciplinares, por terem seus enfoques e abordagens contemplados nesses perfis de programa.

Por último, é preciso reverter a desigualdade regional da produção da Educação Física Brasileira, visto que a Pós-Graduação em Educação Física está localizada, preponderantemente, nas regiões sudeste e sul do país, com apenas um curso na região Centro-Oeste e outros dois na região Nordeste. O CBCE tem trabalhado no sentido de incentivar a criação de novos programas nessas regiões e também na formação de pessoal nas Universidades do Norte, Nordeste e Centro-Oeste através de Mestrados e Doutorados Interinstitucionais.

Afinal, em termos de política científica, parece ser mais salutar que, mais além da adequação da Educação Física ao que está circunscrito na Área 21 da CAPES, os critérios do campo científico da Educação Física, orientados pela sua inegável pluralidade, é que devam delinear o que se produz em termos de pós-graduação em nossa área no Brasil.

A Direção Nacional do CBCE entende que a análise contínua dos meios de avaliação da área e o avanço de propostas que mantenham esse processo de mudança na avaliação, por meio de um diálogo ininterrupto, é fundamental. Além disso, acreditamos que o CBCE, como sonhado desde seu embrião e reafirmado ao longo de seus 34 anos, tem o papel de funcionar como um catalisador desse processo, pois se configura, como observado no artigo primeiro do seu Estatuto, “uma associação científica que congrega Profissionais e Estudantes que possuem em comum o interesse pelo desenvolvimento dos estudos e pesquisas relacionadas à área acadêmica convencionalmente denominada Educação Física”.

Os apontamentos aqui sublinhados não visam alimentar divisões, e sim uma convivência mais amadurecida científica e politicamente no campo da Educação Física Brasileira; para que nossa área possa continuar instigando um sem-número de pesquisadores a produzirem saberes e fazeres mais conectados com a vida, portanto, comprometidos com as necessidades educativas, tecnológicas e culturais de uma sociedade complexa e em constante mudança.

Leonardo Alexandre Peyré Tartaruga
Presidente do CBCE
Gestão 2011-2013


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