terça-feira, 6 de novembro de 2012

Impactos Econômicos da Copa do Mundo no Brasil


Artigo avalia os impactos da Copa do Mundo ao país

 As projeções sobre os impactos econômicos proporcionados pela realização da Copa do Mundo costumam ser superestimadas. Estas, dificilmente se concretizam, pois são formuladas levando em conta a conjunção de inúmeros fatores, sempre no cenário mais favorável possível. O alerta, com referência ao Mundial de 2014, que terá o Brasil como anfitrião, está em artigo assinado pelo professor Marcelo Weishaupt Proni, diretor associado do Instituto de Economia (IE) da Unicamp, em parceria com o economista Leonardo Oliveira da Silva. Disponibilizado na página do IE, na seção “Textos para Discussão” (www.eco.unicamp.br/index.php/textos), o texto faz uma análise crítica acerca das contribuições que o evento pode trazer ao país.

De acordo com Proni, as previsões otimistas sobre os possíveis impactos e legados que um megaevento como a Copa pode trazer servem principalmente para justificar os altíssimos investimentos que o país-sede tem que fazer para organizá-lo. “No artigo, nós procuramos mostrar que o potencial de impacto é maior para um país em desenvolvimento do que para um país rico. No caso da África do Sul, foram registrados impactos positivos, mas eles não alcançaram a população como um todo. Alguns grupos e setores ganharam, mas estudos demonstraram que a maioria dos sul-africanos não obteve ganhos significativos com o Mundial”, afirma.

No Brasil, conforme Proni, existem centros nos quais a modernização dos estádios pode ajudar a impulsionar o futebol e alavancar negócios. Em outros, isso não deverá acontecer, e as arenas esportivas tenderão a se transformar em “elefantes brancos”. “Mesmo havendo a possibilidade de usar esses espaços para outras atividades, como a realização de shows musicais, o investimento dificilmente será recuperado em relação a alguns deles. Por outro lado, a Copa pode deixar um legado em termos de infraestrutura urbana, mas essas obras que teriam que ser feitas de qualquer maneira. O Mundial está somente ajudando a estabelecer um cronograma para elas”, acredita.

O diretor associado do IE observa que estudos demonstram que quanto maior é a participação do setor privado nos empreendimentos relacionados ao Mundial, melhor é o aproveitamento dos mesmos. “Quando se tem uma dependência muito grande de recursos públicos, como é o caso brasileiro, a situação não é tão favorável. Como o país não dispõe de recursos abundantes, o dinheiro destinado às obras da Copa deixa de ser aplicado em outras áreas, como saúde, educação e moradia”, lembra.

Ainda em relação ao caso do Brasil, Proni considera que a Copa dificilmente trará impactos significativos no que se refere à arrecadação de tributos ou geração e empregos, para citar dois segmentos. “Quando o governo brasileiro decidiu organizar a Copa, ele enxergou nisso uma oportunidade estratégica para fortalecer a imagem do país no cenário internacional. O objetivo é dizer: ‘olha, nós somos capazes de organizar um evento desse porte’. Esta é a mensagem. Quando a discussão fica restrita aos impactos econômicos, essa dimensão mais ampla fica relegada a segundo plano”, observa o economista.

Ainda segundo ele, no momento em que o Brasil está pretendendo se modernizar, a Copa pode vir a ser um bom catalisador de iniciativas nesse sentido. “Isso não significa que as promessas contidas nas projeções vão se concretizar. Um legado importante que o Mundial pode trazer diz respeito ao desenvolvimento de mecanismos de fiscalização sobre os gastos públicos relativos ao evento. Tanto a Caixa [Econômica Federal] quanto o BNNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social] têm sido muito criteriosos na liberação de recursos, para evitar eventuais superfaturamentos. Essa postura é muito positiva”, avalia. (Manuel Alves Filho)

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