sábado, 4 de maio de 2013

LEGADOS NADA SOCIAIS DAS OLIMPÍADAS DE PEQUIM



Após quatro anos, Pequim sofre com herança dos Jogos


Instalação do vôlei de praia está abandonada à ação do tempo no centro de Pequim Foto: Reuters
Instalação do vôlei de praia está abandonada à ação do tempo no centro de Pequim
Foto: Reuters


Quatro anos depois de sediar uma edição espetacular dos Jogos Olímpicos de verão, a agitada capital da China vê uma vasta melhora no transporte público e infraestrutura, mas muitos dos locais construídos para o evento definham desprezados, mal utilizados e consumindo dinheiro público.

As jóias da coroa eram dois edifícios de arquitetura deslumbrante ¿ o estádio principal Ninho do Pássaro e o centro aquático Cubo D'Água, descritos pelo presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Jacques Rogge, como sedes "belas" e "sem precedentes".
"O sucesso de sediar a Olimpíada não foi esplendido apenas para o esporte chinês, ele alimentou a paixão de um bilhão de pessoas pelo esporte", disse o ministro do Esporte da China, Liu Peng, ao comentar no ano passado sobre a importância dos Jogos para Pequim.
No entanto, hoje os dois locais são mais conhecidos pelo constante fluxo de turistas curiosos que eles atraem - 4,61 milhões de visitantes em 2011 - e não como locais de grandes eventos esportivos.
Apesar do Ninho do Pássaro ter recebido jogos de futebol e competições de atletismo, o local também foi apresentou o primeiro rodeio da China, um parque temático "país das maravilhas de inverno", e shows musicais.
A gerência do estádio estima que, no ritmo atual, irá demorar três décadas para recuperar os 480 milhões de dólares (R$ 875 mi) investidos na construção.
O vizinho Cubo D'Água teve um prejuízo de quase 2 milhões de dólares (R$ 3,65 mi), mesmo com o subsidio estatal e as receitas de um parque aquático anexo construído após a Olimpíada para render dinheiro à sua sombra.
"O custo para construir instalações olímpicas foi substancial. Mas os organizadores falharam no planejamento de como utilizar os locais depois dos Jogos quando estavam construindo, ou até mesmo quando estavam concorrendo aos Jogos", disse Yan Qiang, editor-chefe de esportes do NetEase Media Group.
"Para sedes esportivas, quanto mais elas forem usadas, mais elas irão durar, mais proteção elas irão receber, e a sociedade será muito mais beneficiada¿, acrescentou Qiang. "Eu acredito que Pequim tem uma grave carência neste assunto."
Abandono total
Outros locais têm se saído ainda pior do que o Ninho do Pássaro ou o Cubo D'Água.
A instalação do caiaque está completamente abandonada: o que restou de água no local estava sendo transposto por um grande tubo para irrigar um parque nas cercanias durante a típica primavera seca de Pequim, durante uma recente visita de um jornalista da Reuters.
A sede do remo, localizada em um subúrbio de difícil acesso no nordeste de Pequim, agora é ocupada principalmente por pequenos barcos locais.
Nenhum dos esportes é bem conhecido na China, o que explica parcialmente o abandono.
Alguns locais olímpicos, como o do tênis de mesa e das lutas, foram construídos dentro de universidades.
"Eles ganharam estas instalações enormes... e eles não tinham nenhuma experiência de gestão de eventos, e não tinham a permissão de receber qualquer coisa do tipo antes dos Jogos Olímpicos", disse Susan Brownell, professora de antropologia e especialista em esportes chineses na Universidade de Missouri - St. Louis.
"Depois que os Jogos acabaram, eles aprenderam a partiram do zero como gerenciar um evento", ela acrescentou.
Além disso, na China controlada pelo Partido Comunista, há a preocupação em agrupar grandes multidões. E o receio é ainda maior com a tensa disputa na troca de poder, que acontece a cada dez anos, prevista para o segundo semestre de 2012.
"Para realizar um grande evento esportivo, você precisa colocar milhares de pessoas juntas, e isso é uma assembleia pública. Na atual atmosfera política há muito medo de grandes assembleias públicas", disse Brownell.
Mesmo o fechamento de fábricas poluentes para melhorar o notório ar poluído de Pequim teve apenas um limitado efeito e a cidade ainda está envolta por uma fumaça asfixiante.
Onde antes havia orgulho por ter sediado os Jogos Olímpicos, especialmente após o país liderar o quadro de medalhas em 2008, agora há a crítica de alguns às instalações por conta do desperdício.
"Eu acho que os materiais de construção foram muito caros e aconteceu bastante desperdício", disse o turista Li Fang.
"O Cubo D'Água troca a água todos os dias, o que é um gigantesco gasto das reservas de água. Ele também consome muita eletricidade quando as luzes estão ligadas. Acho que seria melhor direcionar estas despesas ao dia a dia das pessoas. Estes gastos são totalmente desnecessários", acrescentou Fang, 21 anos.

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