sábado, 15 de março de 2014

CARTA DOS ESTUDANTES DE EDUCAÇÃO FÍSICA

Por que não vai ter Copa?

 Junho de 2013. As ruas são tomadas por milhões de pessoas em todo o país, e de forma inesperada grandiosos atos surgem em diversas cidades.
         Aos que acharam que essas mobilizações foram “fruto do acaso”, ou uma simples primavera que não se repetiria, 2014 surpreende. Mal inicia o ano e o que as ruas mostram é a continuidade e desenvolvimento das mobilizações espontâneas do ano passado, através da mobilização contínua, greves de vários setores e paralisações. Junto às mobilizações, palavras de ordem são retomadas, expressando algumas sínteses que o movimento construiu. Exemplo mais recente, pôde ser vista na greve dos garis no Rio de Janeiro, em torno de condições dignas de trabalho.
         A explosão indignada do “Não vai ter copa” surge nesse contexto, aparecendo em diversas mobilizações pelo país, entoada por diversos setores das massas, desde junho até a greve dos profissionais da Educação no Rio de Janeiro, ao final de 2013 e sendo repercutida em grande parte dos atos que se construíram em 2014, inclusive na greve dos rodoviários em Porto Alegre e na atual greve dos garis no Rio de Janeiro.
         Compreendemos que a palavra de ordem expressa muito além da simples negação de um evento esportivo, e é preciso diferenciá-la. O conteúdo político contido no grito “não vai ter copa” possibilita denunciar o descontentamento geral com o investimento público de bilhões, nessa década de megaeventos no Brasil, enriquecendo empreiteiros e grandes empresários, enquanto educação, saúde e transporte estão cada vez mais precarizados. A negação possibilita expor o verdadeiro ataque à toda legislação de direitos em função de atender os interesses de um novo Estado, de exceção: o “Estado FIFA”, e seus empresários aliados. Está nítido para nós que, tal palavra de ordem, nada mais é do que uma sincera e indignada resposta, surgida no seio das mobilizações, dos trabalhadores e da juventude, denunciando que esse projeto passa longe de ser seu e que em momento nenhum a vinda dos Megaeventos partiu de alguma reivindicação da classe trabalhadora.
         Nós, estudantes de Educação Física, que entendemos que o futebol é um elemento da cultura corporal, criado historicamente pela humanidade, não somos contra o futebol quando gritamos “não vai ter copa!”, isso não é uma contradição, somos contra a utilização do futebol para a manutenção dos exorbitantes lucros dos empresários, da FIFA e etc. Defendemos outra concepção de esporte, que não seja tratado como mera mercadoria, mas um esporte que humanize, que auxilie a expor as contradições dessa sociedade. “Não vai ter copa!” reafirma tudo isso exposto acima, e mais, reafirma que o único legado que teremos são as milhares de remoções, o acirramento do genocídio da população negra e a chamada “limpeza social” na intenção de esconder os setores marginalizados da sociedade.
         Portanto, este é o momento de reafirmar a UNIDADE dos que lutam, sem negar as divergências, mas avançando na construção fraterna com a esquerda, mesmo frente aos seus inúmeros limites e erros, aos quais estamos todos sujeitos nesse período histórico.
Cabe a nós, estudantes de educação física, inseridos junto aos Diretórios e Centros acadêmicos e/ou coletivos organizados, nos somarmos a essas construções coletivas nas ruas. Nos utilizarmos da Campanha “Dos Megaeventos eu abro mão!” enquanto uma ferramenta de diálogo, debate e mobilização em torno dessa pauta, a fim de que cada dia mais engrossem as fileiras dos que acreditam que somente com organização e luta construiremos outro futuro possível.
.“DOS MEGAEVENTOS EU ABRO MÃO!”
EXECUTIVA NACIONAL DE ESTUDANTES DE EDUCAÇÃO FÍSICA

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