quinta-feira, 27 de março de 2014

#ForaFIFA

Especial: Como a Fifa fez a Copa do Mundo brasileira faturar o dobro da alemã
Na primeira das cinco partes de uma reportagem sobre as finanças da entidade que comanda o futebol, entenda por que, desde o Japão, a receita com o torneio cresceu tanto

Equipe Universidade do Futebol

A Fifa nunca ganhou tanto dinheiro com a Copa do Mundo. De 2011 a 2013, nos três primeiros anos do ciclo brasileiro, a entidade faturou US$ 3,6 bilhões. Vamos às comparações? O primeiro triênio da edição da África do Sul, de 2007 a 2009, teve US$ 2,8 bilhões em receitas, 25% menos do que a brasileira.
O da Alemanha, entre 2003 e 2005, chegou a US$ 1,8 bilhão, a metade do que o Brasil conseguiu. Os primeiros três anos do ciclo da Coreia do Sul e do Japão, entre 1999 e 2001, então, com US$ 1 bilhão de faturamento e mais de 200% a menos, mal fazem cócegas à Copa que começa em junho deste ano em 12 estádios brasileiros. Como, afinal, funciona o negócio da Fifa?
A Máquina do Esporte se debruçou sobre os balanços financeiros publicados desde 2002 e montou um especial sobre as finanças da entidade que comanda o futebol no mundo inteiro. Entenda, em uma didática reportagem dividida em cinco partes, como entra e como sai dinheiro dos cofres da Fifa.
O que mudou de uma Copa para a outra?
Hoje, a receita da Fifa se divide em venda de direitos de transmissão e patrocínios, principalmente, mas também em licenciamentos, hospitalidade, ingressos e algumas outras fontes menores. Essa diversificação é bastante recente. Em 2002, quando Ronaldo balançou as redes de Oliver Kahn duas vezes e levou a seleção brasileira ao pentacampeonato, 76% dos US$ 765 milhões que a Fifa faturou naquele ano vieram de emissoras de televisão que pagaram para exibir a competição. A área comercial havia rendido somente 7%, e o resto se dividiu entre outras receitas variadas. Não havia entrada de dinheiro significativa nem com licenciamentos, nem com hospitalidade.
Na Copa da Alemanha, a Fifa conseguiu duas conquistas importantes. A primeira: a receita foi mais bem dividida entre os quatro anos do ciclo. Na vez de Coreia do Sul e Japão, foram US$ 136 milhões faturados em 1999, US$ 426 milhões em 2000, US$ 510 milhões e US$ 765 milhões em 2002. À medida que o torneio se aproximou, aumentou a renda significativamente. Na vez dos alemães, a receita do quadriênio cresceu 40%, de US$ 1,8 bilhão para US$ 2,5 bilhão, e a entidade teve uma variação bem mais sutil. Entraram US$ 573 milhões em 2003, US$ 636 milhões em 2004, US$ 658 milhões em 2005 e US$ 700 milhões em 2006.
A segunda vantagem alemã é que foi a Copa em que mais se ganhou dinheiro com hospitalidade, isto é, serviços mais elaborados oferecidos aos torcedores em camarotes, áreas corporativas etc. Nos quatro anos, a Fifa pegou em torno de US$ 50 milhões em cada um deles, equivalentes a quase 10% do faturamento anual total. A TV cresceu quase US$ 300 milhões do quadriênio de Coreia e Japão para o quadriênio da Alemanha, mas, justamente porque a organizadora passou a ganhar dinheiro com outras fontes, a porcentagem dela no todo caiu de 70% para 50%.
Aí veio a África do Sul, um país bem menos desenvolvido em termos de infraestrutura que Alemanha, Coreia e Japão, e fez o faturamento da Fifa decolar. Em quatro anos, os ganhos com TV aumentaram 78%, para US$ 2,4 bilhões, e o marketing cresceu 88%, para US$ 1 bilhão.
Foi na área comercial, por sinal, que a Fifa teve a melhor sacada deste ciclo. Depois da Copa da Alemanha, a entidade decidiu mudar de estratégia para ganhar mais com patrocínios e criou uma estrutura com três níveis: parceiro, patrocinador da Copa e apoiador nacional. A primeira, com Adidas, Coca-Cola, Hyundai/Kia Motors, Emirates, Sony e Visa, rendeu, sozinha, US$ 148,5 milhões em cada um dos quatro anos. A camada de patrocinadores da Copa, específicos para a edição sul-africana, variou entre US$ 53 milhões e US$ 98 milhões em cada ano entre 2007 e 2010. E as cotas de apoiadores nacionais ficaram entre US$ 5 milhões e US$ 8 milhões anuais.
No Brasil, esta estratégia se revelou ainda mais lucrativa. Beneficiada pelo fato de que há mais grandes empresas brasileiras do que sul-africanas no mapa, a Fifa turbinou os contratos de apoiadores nacionais. Os US$ 8 milhões arrecadados em 2010 com esta camada de patrocinadores saltou para US$ 28 milhões em 2011, US$ 43 milhões em 2012 e US$ 46 milhões em 2013. É o dinheiro de Apex-Brasil, Centauro, Garoto, Itaú, Liberty Seguros e WiseUp, todas empresas que adquiriram o direito de explorar a Copa do Mundo exclusivamente no Brasil.
As outras camadas também cresceram. Novos contratos assinados com os parceiros fizeram a receita anual ir de US$ 148,5 milhões para US$ 177 milhões. Os patrocinadores da Copa também passaram a render mais de US$ 130 milhões, contra os US$ 53 milhões a US$ 98 milhões que pagaram entre os quatro anos da África do Sul.
Os licenciamentos no Brasil mais do que dobraram. Os US$ 10 milhões que a entidade arrecadou em 2009 saltaram para US$ 23 milhões em 2012, US$ 25 milhões em 2013, no ciclo atual. A área de hospitalidade não chegou aos patamares alemães, mas rendeu US$ 47 milhões em 2013, ano de Copa das Confederações em seis estádios recém-reformados no país. Com a diversificação nas fontes de receita, a TV, que manteve a mesma faixa do quadriênio sul-africano e ainda é a principal entrada de dinheiro nos cofres da Fifa, bateu em 2013 a porcentagem mais baixa sobre o faturamento total: 45%. Prepare-se, porque a conta ainda não fechou, vai subir mais ainda, e você vai saber por quê.

Fonte: Máquina do Esporte - www.maquinadoesporte.com.br
Tags: Fifa , copa do mundo ,brasil ,áfrica do sul ,receitas , investimento , infraestrutura ,financeiro , faturamento , tv



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